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Xamã Huni Kuin participa de evento na Inglaterra

Medicine Festival que acontece esta semana reúne experiências relacionadas à saúde, bem-estar, espiritualidade e consciência

Flávia Feitosa, de Reading, no Reino Unido, para a Psicodelicamente

Foto: Divulgação

Malas preparadas! Para quem nunca acampou na vida, a expectativa é de  uma experiência única. No auge dos meus quase 50 anos, resolvi embarcar para uma aventura singular: participar do Medicine Festival, que acontecerá entre os dias 17 e 21 de agosto, na Inglaterra. 

O Medicine é um grupo organizado em uma CIC (Companhia de Interesse Comunitário), uma empresa social responsável por realizar este festival e outros menores na Inglaterra, fundado por um conselho de investidores sociais.

O festival reúne diversas atividades e experiências relacionadas à saúde, bem-estar, espiritualidade e consciência. Ele acontece na região de Reading no Reino Unido, a pouco mais de 1h30 de trem ou de carro de Londres. 

Este ano o tema do evento será “Harmonizar: sintonizando com o nosso coração universal” e o foco principal é a promoção do autocuidado, o desenvolvimento pessoal e a exploração de diferentes práticas de cura, espiritualidade e conhecimento ancestral. 

Não vai faltar o que fazer por lá. Terão cerimônias, rituais, meditações, prática de yoga, terapias holísticas, palestras, workshops, saunas de vários tipos, oficinas de tambores, massagens e apresentações artísticas e musicais. 

E tudo isso em um ambiente onde as pessoas podem se conectar, aprender e expandir suas perspectivas sobre saúde e bem-estar, assim como a consciência das escolhas, história de vida e modo de viver. 

O que mais me interessa ver lá são as saunas, oportunidade de nadar nos lagos, as oficinas de sound healing (que eu absolutamente amo e venho estudando há algum tempo), além dos concertos de alguns artistas que parecem ser incrivelmente bem produzidos, tanto pela música quanto pelo visual. Também confesso que espero me surpreender com algumas palestras. 

Para dar uma ideia do tamanho do festival, a programação da edição que começa no próximo sábado tem 29 páginas. O extenso cardápio inclui, por exemplo, concertos de música medicina de todo o mundo. 

Para quem não sabe, música medicina, como o nome já sugere, é um tipo de música que tem como objetivo curar. Mas isso também engloba o cuidado e a consciência sobre si próprio e sobre a vida coletiva. É uma música terapêutica, não que ela por si só cure, mas age como um estímulo para os cuidados necessários ao sustento da vida em muitos sentidos. 

Artistas e bandas conhecidos no meio estarão por lá, como The Human Experience, Sam Garrett, Aware, K.O.G, Laboratórium Piésne, Fia, Etherwood, Ayla Nereo, Drumspyder, Gabirel Soma, Janax Pacha, Nick Barbachano, Yemanjo, Facesoul, Adrian Freedman entre outros.

Além de música, também há espaços para conversas de alto nível, com a presença de convidados bem especiais, de lamas tibetanos a lideranças de diversas tradições ancestrais. E o Brasil estará bem representado. 

Estão confirmados representantes do povo Huni Kuin, entre eles o xamã Ninawa Pai da Mata, cacique da aldeia Novo Futuro, no Acre, e Samia Biruany e Txana Tuwe. Outro brasileiro por lá é Marcio Maracajá, apresentado pelo próprio festival como sacerdote da umbanda, curandeiro, historiador e etnógrafo das matrizes africanas no Brasil.

Estão confirmados representantes do povo Huni Kuin/Foto: Reprodução

Entrelaçar comunidade e unir culturas

Segundo os organizadores, a missão do Medicine Festival é a de “entrelaçar comunidades e unir culturas – guardiões da sabedoria, visionários de comunidades indígenas e artistas de diferentes tradições para inspirar e estimular uma compreensão mais profunda sobre como caminhar com leveza e viver harmoniosamente enquanto apoiamos uns aos outros na criação do mundo que queremos – equitativo e próspero.” 

Eles acrescentam que buscam promover uma visão de um mundo que valorize a natureza e onde a paz é reverenciada e a diferença celebrada.

O evento ainda não divulgou o número exato de pessoas que compraram ingressos, sabe-se que as entradas esgotaram no início de abril desde ano. Mas, estima-se que sejam milhares, que circularão entre as florestas, rios, lagos, espaços de eventos e shows. 

Segundo a organização, os lucros dos eventos são revertidos para ajudar a capacitar os povos indígenas a preservar e proteger suas terras, tradições e sabedoria e também como forma de ajudar a regenerar a natureza levando seus conhecimentos para o mundo. O festival desde a pandemia mantém uma plataforma que conecta povos indígenas e originários de diversos lugares. 

O festival terá várias tendas comerciais e atividades pagas e gratuitas (como massagens, oficinas, sauna sagrada). Neste caso, até onde sei, será muita tentação. Parece que a comida é incrível e há muitas coisas interessantes para comprar. Fora a vontade de levar mais uma tattoo no corpo – não faltará oportunidade. 

Soube que foi realizado no fim do ano passado um longo e concorrido processo de seleção para quem queria se apresentar, vender produtos ou oferecer seus serviços.

Não são aceitos no local pets e bebidas alcoólicas. As acomodações serão em cabanas de diversos tipos, das mais simples às luxuosas. Quem já foi reporta uma experiência incrível de conexão entre as pessoas e a natureza. 

Como não se trata de um festival de experiências psicodélicas, não se sabe se haverá, por exemplo, cerimônias com alguma planta de poder. Mas, considerando a presença de lideranças do povo ayahuasqueiro Huni Kuin há uma expectativa em relação a isso.

Entretanto, foi divulgado que haverá cacau e cogumelos medicinais. Falta saber como será isso, se terá algum tipo de assistência e condução. Só chegando lá para saber. Depois conto mais sobre isso por aqui.

Flávia Feitosa

Flávia Feitosa é doutora pela USP (Universidade de São Paulo) e mestre em psicologia social pela London School of Economics and Political Science, graduada em psicologia pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e especialista em processos grupais e em gestão educacional. É professora na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), na FGV (Fundação Getúlio Vargas) e na Casa do Saber. Atuou por duas décadas como executiva em multinacionais e no mercado educacional brasileiro. Está em processo de formação em PAP (Psicoterapia Assistida por Psicodélicos) pelo Instituto Phaneros e atua como psicóloga, psicoterapeuta e consultora focada em desenvolvimento de pessoas, líderes e times. É colaboradora e consultora científica da Psicodelicamente.

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