Revista digital de jornalismo psicodélico

Search

Escrevendo sobre psicodélicos? Prossiga com cuidado

Apesar do entusiasmo, pesquisadores dizem que ainda há muito a descobrir. Veja evidências e incógnitas sobre psilocibina, LSD, MDMA e outros alucinógenos

Por Naseem S. Miller, The Journalist's Resource

Foto: Igor Omilaev/Unsplash

Cidades e estados americanos estão avançando em projetos de lei para descriminalizar e regular o acesso a drogas psicodélicas, o que poderá potencialmente tornar-se uma alternativa para tratar problemas de saúde mental. Mas as substâncias continuam ilegais sob a lei federal dos Estados Unidos e as evidências científicas sobre a sua eficácia ainda estão longe de serem conclusivas.

Neste mês, dois legisladores da Califórnia apresentaram um projeto de lei que permite que pessoas com 21 anos ou mais façam uso de cogumelos psicodélicos sob supervisão médica. 

Em Massachusetts, os legisladores estão trabalhando em um projeto de lei que pretende legalizar a psilocibina, o princípio ativo dos cogumelos alucinógenos. O mesmo ocorreu no Arizona onde também foi elaborada uma proposta que disponibilizaria essa mesma substância como uma opção de tratamento de saúde mental.

Em dezembro passado, o congresso americano aprovou legislação  que incluía o financiamento de ensaios clínicos com psicodélicos para militares na ativa. E em janeiro deste ano, o Departamento de Assuntos de Veteranos anunciou um  financiamento para pesquisas com MDMA, também conhecido como ecstasy, e psilocibina, para tratar veteranos com Tept (transtorno de estresse pós-traumático) e depressão. Esta é a primeira vez desde a década de 1960 que o órgão financia pesquisas com esses compostos, segundo o departamento.

O avanço da legislação e de propostas aprovadas nos últimos anos exige mais cobertura jornalística. Mas é importante que os jornalistas consigam ir além do que dizem os projetos de lei e os legisladores, abordando pesquisas científicas sobre essas substâncias e sem deixar de observar as limitações desses estudos.

As principais organizações médicas americanas, incluindo a Associação Americana de Psiquiatria, ainda não endossaram psicodélicos para tratar distúrbios psiquiátricos, exceto em ensaios clínicos, devido a evidências científicas insuficientes.

Os autores de um estudo de 2023 publicado na revista Therapeutic Advances in Psychopharmacology também aconselham “elevada cautela” em relação ao hype em torno do potencial uso médico de psicodélicos. “Não há evidências robustas suficientes para tirar conclusões firmes sobre a segurança e eficácia da terapia psicodélica”, escrevem eles.

Os cientistas ainda estão tentando entender melhor como funcionam os psicodélicos, qual é a melhor dose para tratar diferentes condições de saúde mental e como reduzir o risco de possíveis efeitos colaterais, como experiências emocionais intensas ou aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, disseram os autores de um artigo de fevereiro de 2024 publicado na revista Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry.

Em outro estudo de 2022 publicado na Jama Psychiatry, o pesquisador Joshua Siegel e os seus colegas da Universidade de Washington em St. Louis escrevem que, embora a reforma legislativa para as drogas psicodélicas estejam avançando rapidamente, várias questões não foram abordadas, incluindo:

  • Um mecanismo para verificar o conteúdo químico de medicamentos obtidos fora do estabelecimento médico.
  • Critérios de licenciamento e treinamento para profissionais que desejam fornecer tratamento psicodélico.
  • Infraestrutura clínica e preços.
  • Avaliar possíveis interações com outros medicamentos.
  • Como os medicamentos devem ser utilizados em populações como jovens, idosos e gestantes.

 

“Apesar da relativa rapidez com que alguns adotaram os psicodélicos como tratamentos médicos legítimos, questões críticas sobre o mecanismo de ação, dose e frequência da dose, durabilidade da resposta a tratamentos repetidos, interações medicamentosas e o papel que a psicoterapia desempenha na eficácia terapêutica permanecem sem resposta”, escrevem Siegel e colegas.

O que são psicodélicos?

Os psicodélicos fazem parte  da classe mais antiga de substâncias que alteram a mente, usadas pelos humanos há milhares de anos em rituais tradicionais ou religiosos. Em 2021, 74 milhões de pessoas com 12 anos ou mais relataram o uso de alucinógenos, de acordo com a Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde.

Os termos “psicodélicos” e “alucinógenos” são usados ​​indistintamente no discurso público, mas cientificamente, os alucinógenos se enquadram em três grupos com base na estrutura química e no mecanismo de ação, de acordo com o Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (NIDA, na sigla em inglês), ligado ao NIH (National Institutes of Health), o Ministério da Saúde americano.

As drogas psicodélicas, também chamadas de “psicodélicos clássicos” ou simplesmente “psicodélicos”, afetam principalmente a maneira como o cérebro processa a serotonina , uma substância química que transporta mensagens entre as células nervosas do cérebro e do corpo. Essas drogas podem provocar visões vívidas e afetar o senso de identidade de uma pessoa, de acordo com o NIDA

Os medicamentos nesta categoria incluem:

Psilocibina é o ingrediente ativo dos cogumelos psicodélicos, também conhecidos como cogumelos “mágicos”. É um composto classificado como  Schedule 1 (a chamada Classe 1) de acordo com a Lei de Substâncias Controladas dos EUA, categoria mais restrita de substâncias controladas, para drogas de alto potencial de abuso e sem uso médico aceito. 

No entanto, alguns estados descriminalizaram o psicodélico, segundo o NIDA. A psilocibina também recebeu a designação Breakthrough Therapy do FDA, um processo para acelerar o desenvolvimento e revisão de medicamentos para o tratamento do transtorno depressivo maior.

LSD, ou dietilamida do ácido lisérgico, é um produto químico sintético feito de um fungo que infecta o centeio. Também está na lista de Classe 1.

DMT, ou dimetiltriptamina, encontrado em certas plantas nativas da floresta amazônica, usadas para fazer um chá chamado ayahuasca usado em práticas e rituais religiosos. O DMT também pode ser produzido em laboratório e inalado. Está na lista de Classe 1.

Mescalina, um composto químico encontrado num pequeno cacto chamado peiote, é usada pelos povos indígenas no norte do México e no sudoeste dos EUA em rituais religiosos. A mescalina também pode ser produzida em laboratório. A mescalina e o peiote são substâncias enquadradas na Classe 1.

 

Drogas dissociativas

As drogas dissociativas afetam a forma como o cérebro processa o glutamato , uma substância química abundante liberada pelas células nervosas do cérebro que desempenha um papel importante no aprendizado e na memória. Essas drogas podem fazer as pessoas se sentirem desconectadas de seus corpos e do ambiente. Os medicamentos nesta categoria incluem:

PCP, ou fenciclidina, foi desenvolvido na década de 1950 como um anestésico injetável, mas foi descontinuado porque os pacientes ficaram agitados e delirantes. Hoje é uma droga ilegal de rua. É um medicamento da Tabela 2, o que significa que tem alto potencial de abuso, mas supostamente menor em comparação com as drogas da Classe 1.

Cetamina, um medicamento desenvolvido na década de 1960 e usado como anestésico na Guerra do Vietnã, é aprovado pelo FDA. Foi demonstrado que desempenha também um papel no controle da dor e no tratamento da depressão. Também é usado ilegalmente por seus efeitos alucinógenos. É um medicamento da Classe 3, o que significa que tem potencial moderado a baixo de dependência física e psicológica. Um medicamento quimicamente semelhante chamado esketamina é aprovado pelo FDA para o tratamento da depressão que não responde ao tratamento padrão.

Outros alucinógenos que afetam diferentes funções cerebrais e podem causar efeitos psicodélicos e potencialmente dissociativos, incluem:

MDMA, ou ecstasy, uma droga sintética que é estimulante e alucinógena. É uma droga da Classe 1. Recebeu a designação Breakthrough Therapy do FDA para o tratamento de Tept.

Sálvia é uma erva que tem efeitos alucinógenos. Não é uma droga controlada pelo governo americano, mas tem uso restrito em alguns estados, segundo a DEA (agência antidrogas americana)

Ibogaína é derivada da casca da raiz de um arbusto da África Ocidental e é um estimulante e alucinógeno. Está classificada na Classe 1.

 

Pesquisa sobre psicodélicos

Houve uma onda de estudos sobre substâncias psicodélicas, especialmente o LSD, nas décadas de 1950 e 1960, mas foram interrompidas quando os EUA declararam  “guerra às drogas” em 1971. Isso interrompeu as pesquisas até ao início da década de 1990, quando começaram a surgir novos estudos com MDMA e DMT.

Em 2006, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins publicaram uma pesquisa duplo-cego seminal na qual dois terços dos participantes – que nunca haviam tomado psicodélicos anteriormente – descrevaram as experiências como as mais significativas de suas vidas.

“Estes estudos, entre outros, renovaram o interesse científico em substâncias psicodélicas e, consequentemente, a investigação sobre os seus efeitos continuou a crescer desde então”, afirma Jacob S. Aday num estudo de 2019 publicado na Drug Science, Policy and Law.

Em seu artigo, Aday e colegas argumentam que 2018 pode ser lembrado como o verdadeiro ponto de virada na pesquisa psicodélica devido aos “avanços na ciência, aumento do interesse público e mudanças regulatórias”, como a psilocibina recebendo o status de “terapia inovadora” do FDA (Food and Drug Administrationa, a Anvisa dos EUA)

Hoje, existem numerosos ensaios clínicos em andamento sobre o potencial terapêutico dos psicodélicos para diferentes condições, incluindo transtornos por uso de substâncias e problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade e Tept.

Dado o número crescente de estudos, a FDA emitiu um projeto de orientação em junho de 2023 para ensaios clínicos com drogas psicodélicas, com o objetivo de ajudar os pesquisadores a pensar em pesquisas que possam produzir resultados mais confiáveis ​​para o desenvolvimento de medicamentos.

As revisões sistemáticas destacadas abaixo mostram que faltam desenhos de estudo robustos em muitos ensaios clínicos psicodélicos. Alguns têm amostras pequenas. Alguns incluem participantes que já usaram psicodélicos antes, portanto, quando participam de um ensaio clínico randomizado e controlado, sabem se estão recebendo tratamento psicodélico ou placebo. Ou, alguns incluem participantes que podem ter certas expectativas devido à cobertura positiva nos meios de comunicação não especializados, criando assim distorções nos resultados.

Se você está cobrindo um estudo sobre psicodélicos…

É importante que os jornalistas prestem muita atenção ao desenho do estudo e falem com um especialista que não esteja envolvido na pesquisa.

Em uma postagem no blog de fevereiro de 2024 do Petrie-Flom Center da Harvard Law School, os professores da Universidade de Leiden, Eiko I. Fried e Michiel van Elk, compartilham vários desafios na pesquisa psicodélica:

  • “As conclusões são dramaticamente exageradas em muitos estudos. Isso varia desde conclusões nas seções de resultados, resumos e até títulos de artigos que não são consistentes com os resultados relatados.”
  • “Há evidências emergentes de que os eventos adversos resultantes de substâncias psicodélicas são comuns e subnotificados.”
  • Alguns estudos não têm grupos de controle, o que pode criar problemas na interpretação dos resultados, “porque tratamentos como os psicodélicos precisam ser comparados com um placebo ou outro tratamento para concluir que funcionam além do efeito placebo ou de tratamentos já existentes e prontamente disponíveis.”
  • “Os participantes em estudos psicodélicos geralmente sabem se estão no grupo de tratamento ou de controle, o que aumenta artificialmente a eficácia aparente dos psicodélicos em estudos clínicos.”
  • Amostras pequenas podem afetar o poder estatístico e a generalização dos resultados. “Também significam que os resultados não são representativos. Por exemplo, os participantes com problemas de saúde mental graves ou com comorbidades são normalmente excluídos dos estudos psicodélicos e, portanto, os resultados podem parecer melhores nestes estudos do que em ambientes psiquiátricos do mundo real.”
  • Muitos estudos não incluem acompanhamentos de longo prazo dos participantes. “Estudar como essas pessoas se sentem alguns dias ou semanas depois de receberem o tratamento não é suficiente para estabelecer que estão realmente curadas da depressão”.

 

Fried e van Elk também elaboraram uma lista de verificação útil para avaliar a qualidade e o rigor científico da pesquisa psicodélica em seu estudo de 2023 “Repetição de História: Diretrizes para Abordar Problemas Comuns na Ciência Psicodélica”, publicado na revista Therapeutic Advances in Psychopharmacology.

Os jornalistas também devem lembrar ao seu público que as drogas ainda são ilegais na maioria dos países e que podem representar riscos para a saúde.

Na Califórnia, o número de atendimentos de emergência envolvendo o uso de alucinógenos aumentou 54% entre 2016 e 2022, de acordo com um estudo de janeiro de 2024 publicado na revista Addiction. 

E a apreensão de cogumelos psicodélicos pelas autoridades americanas aumentou dramaticamente, quase quadruplicando entre 2017 e 2022, de acordo com um estudo de fevereiro de 2024 publicado na revista Drug and Alcohol Dependence.

Abaixo, selecionamos e resumimos cinco estudos recentes, principalmente revisões sistemáticas e meta-análises, que examinam vários aspectos das drogas psicodélicas, incluindo a reforma legislativa; efeitos a longo prazo; eficácia e segurança para o tratamento da ansiedade, depressão e Tept e participação de idosos em ensaios clínicos. Os resumos das pesquisas são seguidos de leituras recomendadas.

 

Resumo de pesquisas

Reforma legislativa e legalização das drogas psicodélicas nos EUA

Joshua S. Siegel, James E. Daily, Demetrius A. Perry e Ginger E. Nicol. JAMA Psiquiatria, dezembro de 2022.

O estudo

A maioria dos psicodélicos nos EUA são drogas da Lista I em nível federal, mas as reformas legislativas estaduais estão mudando as perspectivas de disponibilidade desses compostos para tratamento e seu status ilegal. Para uma melhor compreensão do panorama da reforma legislativa em torno das drogas psicodélicas de Classe I, os pesquisadores coletaram todos os projetos de lei e iniciativas eleitorais relacionados às drogas psicodélicas que foram introduzidos nas legislaturas estaduais entre 2019 e setembro de 2022. Eles usaram fontes disponíveis publicamente, incluindo BillTrack50 , Ballotpedia e LexisNexis. .

As conclusões

No total, 25 estados analisaram 74 projetos de lei, embora os projetos variem amplamente em sua estrutura. A maioria propôs a descriminalização, mas apenas alguns exigiam supervisão médica e alguns nem sequer abordavam formação ou licenciamento, escrevem os autores. Dez desses projetos se tornaram lei em sete estados: Colorado, Connecticut, Havaí, Nova Jersey, Oregon, Texas e Washington. 

Até 1 de agosto de 2022, 32 projetos de lei já estavam descartados e 32 permaneciam ativos. A maioria – 67 deles – referia-se à psilocibina; 27 incluíram psilocibina e MDMA; 43 propuseram a descriminalização das drogas psicodélicas.

Para prever a futura legalização dos psicodélicos, os autores também criaram dois modelos baseados na reforma existente sobre a maconha medicinal e recreativa. Usando 2020 como o ano da primeira descriminalização dos psicodélicos no Oregon, seus modelos prevêem que 26 estados legalizarão os psicodélicos entre 2033 e 2037.

Nas palavras dos autores

“Apesar da relativa rapidez com que alguns adotaram os psicodélicos como tratamentos médicos legítimos, questões críticas sobre o mecanismo de ação, dosagem e frequência da dose, durabilidade da resposta a tratamentos repetidos, interações medicamentosas e o papel da psicoterapia na eficácia terapêutica permanece sem resposta.” 

“Este último ponto é crítico, uma vez que uma preocupação de segurança significativa associada a drogas como a psilocibina, MDMA ou LSD é a sugestionabilidade e a vulnerabilidade do paciente enquanto está sob a influência da droga. Assim, o treinamento e a supervisão clínica são necessários para garantir a segurança e também a eficácia terapêutica para esta classe divergente de tratamentos”, concluem os autores.

Quem é você depois dos psicodélicos?

Uma revisão sistemática e uma meta-análise da magnitude dos efeitos de longo prazo dos psicodélicos serotoninérgicos na cognição/criatividade, no processamento emocional e na personalidade

Ivana Solaja, et al. Avaliações de neurociência e comportamento, março de 2024.

O estudo

Muitos relatos anedóticos e estudos observacionais relataram que os psicodélicos, mesmo em microdoses, que são aproximadamente um décimo de uma dose recreativa típica, podem melhorar certos aspectos da cognição e (ou) criatividade, incluindo a criação de ideias novas e úteis. 

A cognição é uma “gama de funções e processos intelectuais envolvidos na nossa capacidade de perceber, processar, compreender, armazenar e reagir à informação”, explicam os autores. Existem relações estabelecidas entre o funcionamento cognitivo prejudicado e os transtornos de saúde mental.

Devido a limitações como a falta de desenhos de estudo rigorosos, várias populações nos estudos e a falta de dosagem documentada, é difícil tirar conclusões sobre mudanças que duram pelo menos uma semana como resultado do consumo de psicodélicos.

Os autores selecionaram 821 estudos e, com base nos critérios que estabeleceram, encontraram 10 elegíveis para revisão e meta-análise. As drogas nos estudos incluem psilocibina, ayahuasca e LSD.

As conclusões

No geral, houve poucas evidências de que esses psicodélicos tenham efeitos duradouros sobre a criatividade. Além disso, não houve evidências suficientes para determinar se este grupo de psicodélicos melhora a cognição e a criatividade em populações saudáveis ​​ou melhora os déficits cognitivos nas populações estudadas.

Os dados agrupados de três estudos mostraram uma melhoria duradoura no processamento emocional – perceber, expressar e gerir emoções. Os estudos ofereceram poucas evidências sugerindo efeitos duradouros dos psicodélicos nos traços de personalidade.

Nas palavras dos autores

“Os resultados deste estudo mostraram evidências muito limitadas de quaisquer efeitos benéficos duradouros entre estas três construções psicológicas. No entanto, evidências meta-analíticas preliminares sugeriram que estes medicamentos podem ter o potencial de causar uma melhoria duradoura no tempo de reconhecimento emocional. Estudos futuros que investiguem essas hipoteses devem empregar amostras maiores, melhores condições de controle, medidas padronizadas e validadas e acompanhamentos de longo prazo.”

O impacto dos psicodélicos em pacientes com transtorno por uso de álcool: uma revisão sistemática com meta-análise

Dakota Sicignano, et al. Pesquisa e opinião médica atual, dezembro de 2023.

O estudo

Os pesquisadores estão explorando o potencial dos psicodélicos para o tratamento do transtorno por uso de álcool, que afetou quase 30 milhões de americanos em 2022. Os autores pesquisaram no PubMed de 1960 a setembro de 2023 em busca de estudos sobre o uso de psicodélicos para tratar o transtorno por uso de álcool. Dos 174 estudos em língua inglesa, selecionaram seis estudos que atendiam aos critérios para sua análise.

As descobertas

LSD e psilocibina são terapias promissoras para transtornos por uso de álcool, relatam os autores. No entanto, cinco dos seis ensaios foram realizados nas décadas de 1960 e 1970 e podem não refletir as opiniões atuais sobre o tratamento. Além disso, quatro dos seis estudos incluíram pacientes que usaram psicodélicos antes de participarem do estudo, aumentando o risco de viés.

Nas palavras dos autores

“Apesar da existência de vários ensaios clínicos mostrando benefícios relativamente consistentes da terapia psicodélica no tratamento do transtorno por uso de álcool, existem limitações importantes no conjunto de dados que devem ser apreciadas e que impedem uma determinação conclusiva de seu valor para o atendimento ao paciente neste momento.”

Idosos em ensaios de terapia assistida por psicodélicos: uma revisão sistemática

Lisa Bouchet, et al. Jornal de Psicofarmacologia, janeiro de 2024.

O estudo

Pessoas com 65 anos ou mais têm sido sub-representadas em ensaios clínicos envolvendo psicodélicos, incluindo o uso de psilocibina para o tratamento de depressão e ansiedade. Cerca de 15% dos adultos com mais de 60 anos sofrem de problemas de saúde mental, observam os autores. 

Eles queriam quantificar a prevalência de idosos inscritos em ensaios clínicos psicodélicos e explorar os dados de segurança nesta população. Eles procuraram estudos em inglês em periódicos revisados ​​por pares de janeiro de 1950 a setembro de 2023. 

De 4.376 estudos, os autores selecionaram 36. Os estudos envolveram psilocibina, MDMA, LSD, ayahuasca e DPT (dipropiltriptamina), alucinógeno sintético pertencente à família das triptaminas, usado como droga recreativa segundo autoridades policiais americanas.

As conclusões

Dos 1.400 pacientes participantes dos estudos selecionados, apenas 19 tinham 65 anos ou mais. Dezoito receberam psicodélicos por sofrimento relacionado ao câncer ou outras doenças potencialmente fatais. Num ensaio de terapia assistida por MDMA para Tept, apenas um idoso foi incluído. As reações adversas aos medicamentos entre pacientes idosos, incluindo problemas cardíacos e gastrointestinais, foram resolvidas em dois dias e não tiveram impacto duradouro.

Nas palavras dos autores

“Embora os dados existentes em adultos mais velhos sejam limitados, eles fornecem evidências preliminares para a segurança e tolerabilidade da [terapia assistida por psicodélicos] em pacientes mais velhos e, como tal, devem ser estudados com mais rigor em futuros ensaios clínicos.”

Eficácia e segurança de quatro terapias psicodélicas assistidas para adultos com sintomas de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático: uma revisão sistemática e meta-análise

Anees Bahji, Isis Lunsky, Gilmar Gutierrez e Gustavo Vazquez. Jornal de Drogas Psicoativas, novembro de 2023.

O estudo

LSD, psilocibina, ayahuasca e MDMA foram aprovados para ensaios clínicos em terapia psicodélica assistida para problemas de saúde mental no Canadá e nos EUA. No entanto, as principais associações médicas, incluindo a Associação Americana de Psiquiatria, argumentaram que não há evidências científicas suficientes para endossar esses medicamentos para o tratamento de transtornos de saúde mental. Para compreender melhor as evidências atuais, os investigadores analisaram 18 ensaios, randomizados e controlados, abrangendo o período de 2008 a 2023. A maioria dos estudos foi realizada nos EUA ou na Suíça.

As conclusões

Os estudos em geral sugerem evidências preliminares de que as drogas psicodélicas são, em sua maioria, bem toleradas. As terapias com psilocibina e MDMA podem oferecer alívio da depressão e dos sintomas de Tept por pelo menos um ano. A maioria dos estudos também utilizou terapia e apoio psicológico junto com psicodélicos.

Nas palavras dos autores

“Apesar das evidências promissoras apresentadas pelo nosso estudo e pelas revisões anteriores na área, a base de evidências permanece limitada e frágil. Faltam dados de eficácia e segurança a longo prazo”, escrevem os autores. “As etapas futuras devem encorajar e destacar a necessidade de ensaios clínicos randomizados e controlados mais robustos, em maior escala, com períodos de acompanhamento mais longos, e esforços para abordar barreiras regulatórias e legais através de colaborações entre pesquisadores, profissionais de saúde, órgãos reguladores e formuladores de políticas.”

Para saber mais:

Potencial terapêutico dos psicodélicos: história, avanços e fronteiras inexploradas
Juliana Marino Maia, Bruna Stefane Alves de Oliveira, Luiz GS Branco e Renato Nery Soriano. Progresso em Neuropsicofarmacologia e Psiquiatria Biológica, abril de 2024.

Comportamentos agressivos associados ao MDMA e psicodélicos: uma revisão narrativa
Negar Sayrafizadeh, Nicole Ledwos, M. Ishrat Husain e David J. Castle. Acta Neuropsiquiátrica, fevereiro de 2024.

Psicoterapia assistida por MDMA para TEPT: evidências crescentes de efeitos de memória que mediam a eficácia do tratamento
Mesud Sarmanlu, Kim PC Kuypers, Patrick Vizeli, Timo L. Kvamme. Progresso em Neuropsicofarmacologia e Psiquiatria Biológica, janeiro de 2024

Terapias psicodélicas reconsideradas: compostos, indicações clínicas e otimismo cauteloso
Jennifer M. Mitchell e Brian T. Anderson. Neuropsicofarmacologia, julho de 2023.

Psicodélicos como terapêutica: lacunas, desafios e oportunidades
Um workshop do NIH com gravações de vídeo. Janeiro de 2022.

Tendências na mortalidade relacionada ao MDMA em quatro países
Amanda Roxburgh, et al. Addiction, março de 2021.

O potencial terapêutico das drogas psicodélicas: passado, presente e futuro
Robin L. Carhart-Harris e Guy M. Goodwin. Neuropsicofarmacologia, outubro de 2017.

___

*Naseem S. Miller é editora sênior de saúde do The Journalist’s Resource. Ingressou na publicação em 2021, foi repórter sênior de saúde no Orlando Sentinel, onde fez parte da equipe finalista do Prêmio Pulitzer de 2016 pela cobertura do massacre na boate LGBT Pulse, em Orlando.

**Este artigo foi publicado originalmente no The Journalist’s Resource, do Centro Shorenstein de Mídia, Política e Políticas Públicas da Harvard Kennedy School, e traduzido para o português para a Psicodelicamente com prévia autorização da publicação.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Relacionados

apoio

parceiros

A revista Psicodelicamente é uma publicação da Tucunacá Edições e Produções LTDA.