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Pesquisa com ayahuasca e psilocibina: Unifesp busca voluntários

Dois novos estudos clínicos irão avaliar a eficácia de psicodélicas para tratamento de transtornos por alcoolismo e tabagismo

Carlos Minuano, para a Psicodelicamente

Foto: Freepik

A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) busca voluntários para dois estudos clínicos que pretendem avaliar a viabilidade e a segurança de psicodélicos no tratamento de transtornos por uso de substâncias. A bebida amazônica ayahuasca será testada para abuso de alcool e os cogumelos Psilocybe cubensis (popularmente chamados de mágicos) contra o tabagismo.

No total, 28 pessoas devem participar das pesquisas, 13 no estudo com ayahuasca e 15 no protocolo com psilocibina. Para se candidatar a uma vaga a pessoa precisa residir em São Paulo e ter mais de 21 anos.

Mas os pesquisadores vão avaliar ainda outros fatores, explica o médico Dartiu Xavier, responsável pela supervisão dos estudos. “Um dos critérios é não ter histórico de psicose.”

No caso do chá amazônico, o médico, que é um dos pioneiros da pesquisa com psicodelicos no Brasil, explica que o estudo atual deriva de investigações anteriores que já apontavam para benefícios do uso da ayahuasca para o tratamento de dependência.

“Em estudos observacionais com adolescentes percebemos que os jovens que usavam ayahuasca comparativamente ao adolescente que não usava tinha um consumo muito menor de álcool”, ressalta Xavier.

Depois, relatos de pessoas adultas com problemas de alcoolismo que abandonaram o uso compulsivo da bebida após entrar em algum grupo ayahuasqueiro também chamaram a atenção dos pesquisadores. “Começamos então a estudar as propriedades do chá e o que acontece em relação ao álcool.”

Os dois protocolos são compostos por até doze sessões, sendo duas delas com a administração de psicodélicos, acompanhada por uma dupla de terapêutas durante os efeitos agudos (cerca de seis horas), explica Renato Filev (@babafilev), coordenador do estudo com psilocibina.

Segundo o pesquisador, os participantes admitidos serão submetidos a uma avaliação médica e todos também passarão por sessões de preparação para a experiência psicodélica. A saúde mental e a qualidade de vida dos dois grupos serão acompanhados por seis meses.

Detalhe do cipó mariri, usado no preparo da ayahuasca/Reprodução

‘Experiência costuma ser intensa’

As pesquisas com psicodelicos da Unifesp são realizadas no Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), um serviço público vinculado ao departamento de psiquiatria da universidade, que há 35 anos atende pessoas com transtornos por uso de substâncias. 

O pesquisador Renato Filev, coordenador do estudo com cogumelos Psilocybe cubensis no tratamento de pessoas com transtorno por uso de tabaco, explica que o psicodélico é usado em práticas ritualísticas e sacramentais há milênios por diferentes povos e culturas. 

“Estes cogumelos produzem alterações mentais que para alguns podem ser semelhantes ao ‘sonhar acordado’ e para outras uma experiência desafiadora, ou as duas coisas ao mesmo tempo”, diz Filev. O especialista acrescenta que a experiência costuma ser intensa, mas também transformadora.

Por isso, o estudo prevê momentos de integração psicodélica. Ou seja, além do acompanhamento de seis meses, 24h após as sessões com as substâncias, acontecerão encontros em que a pessoa poderá falar sobre a experiência vivida e a respeito de como podem ser integradas aos objetivos de tratamento.

Para o psiquiatra Alexandre Valverde, que participa das pesquisas, os psicodelicos representam uma revolução na psiquiatria. “Oferecem novas perspectivas para ajudar pacientes a superar desafios complexos como o tabagismo e alcoolismo, abrindo caminho para uma abordagem mais holística e eficaz na saúde mental.” 

Os interessados em participar dos estudos clínicos e que sejam elegíveis devem preencher o formulário correspondente, disponível à seguir: ayahuascapsilocibina. Mais informações pelo telefone: +55 11 99925-0420 ou pelo email: pesquisaproad@gmail.com.

Carlos Minuano

Jornalista e escritor, há mais de duas décadas escreve sobre psicodélicos nos principais veículos jornalísticos do país, como nas revistas CartaCapital, Rolling Stone, jornal Metro. É colaborador do portal UOL desde 2012. Além de dirigir a Psicodelicamente, atualmente trabalha na pesquisa para um livro sobre psicodélicos, que será publicado pela editora Elefante. É autor de duas biografias, “Tons de Clô” (do estilista Clodovil Hernandes) em adaptação para uma série de streaming, e “Raul por trás das canções” (do músico Raul Seixas), ambas publicadas pelo grupo editorial Record.

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