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Será possível desbolsonarizar a UDV?

Grupo religioso ayahuasqueiro acaba de eleger novo dirigente; desafio será reverter polarização política que rachou a instituição

Por Aemulus Máximus e Carlos Minuano, para a Psicodelicamente

Foto: Mestre Gabriel/Reprodução

O grupo religioso ayahuasqueiro UDV (União do Vegetal) acaba de eleger o futuro mestre geral representante, a nova diretoria geral e o conselho fiscal, que irão conduzir a instituição de 2024 a 2026. O principal desafio será reverter a polarização política que dividiu os seus seguidores. 

A instituição religiosa, que utiliza em seus rituais o chá psicodelico amazônico ayahuasca, foi criada em 1961. Com inspiração cristã e reencarnacionista, o gupo hoje tem mais de 20 mil seguidores no Brasil e em outros nove países.

O escolhido, no segundo turno da eleição, foi Jair Gabriel da Costa, que obteve maioria, vencendo José Carlos Garcia, que buscava recondução ao cargo que ocupa desde 2021. Ambos são mestres, título dado aos dirigentes das cerimônias do grupo.

Jair Gabriel da Costa, 73, é natural de Porto Velho (RO), e vive atualmente em Salvador (BA). Ele é o segundo filho do mestre Gabriel (1922-1971), fundador da UDV, e de sua esposa, a mestre Pequenina. 

Ele tinha 9 anos quando bebeu ayahuasca pela primeira vez, e esteve presente nos primeiros momentos da criação da UDV no início da década de 1960 nos seringais da Amazônia e, posteriormente, em Porto Velho. 

Jair faz parte, desde 1987, do conselho da recordação dos ensinos do mestre Gabriel, e já foi mestre representante, mestre central e mestre assistente geral da UDV. Atualmente, é mestre representante do Núcleo Sultão das Matas, na capital soteropolitana.

O pleito aconteceu em uma sessão realizada na sede geral da UDV em Brasília (DF), no último dia 9 de setembro. Jair Gabriel da Costa recebeu 62 votos, e José Carlos Garcia recebeu 38 votos. 

Hoje, o grande desafio da nova direção da UDV é tirar a política do seio da instituição, isto é, retirar a influência nefasta do nazifascismo brasileiro (bolsonarismo) de uma instituição religiosa que se proclama cristã e que busca a paz entre os homens.

Desde 2018, quando parte da direção da instituição fez a opção por Jair Bolsonaro como um possível “messias” brasileiro, o discurso antiambientalista, armamentista e de ódio passou a reger muitas das sessões dos núcleos espalhados pelo Brasil inteiro.

Nas sessões é repetido que “o lema da UDV é luz, paz e amor”. Todavia, a opção pelos ideais bolsonaristas se evidenciaram a opção pelo oposto: pelas trevas, guerra e ódio, o que se comprovou nos conturbados quatro anos de (des) governo nazifascista e nos ataques à democracia e ao Estado de Direito após a derrota eleitoral da extrema-direita (Bolsonaro) nas eleições presidenciais de outubro de 2022, criando uma fissura dentro do grupo, conforme noticiado pela Psicodelicamente

Muitos ou alguns proeminentes líderes da UDV participaram ativamente das manifestações golpistas contra o Estado Democrático de Direito, que começaram na noite de 30 de outubro de 2022 e culminaram com a depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, em Brasília, dia da tentativa do golpe de Estado, que felizmente fracassou – participação também reportada nas redes da Psicodelicamente. Vale lembrar que os primeiros réus dos ataques foram julgados esta semana pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Causa espanto que estes líderes da UDV não estejam sendo (ainda) investigados pela Polícia Federal, pois produziram fartas provas contra si mesmos, nas redes sociais e outras mídias. 

A exceção é o advogado Luís Felipe Belmonte, investigado por atos antidemocráticos desde 2021, quando organizou e financiou manifestações golpistas pró-Bolsonaro.

Uma lenda viva da União do Vegetal, mestre Monteiro chegou a publicar manifestos escritos e pedir golpe de Estado aos comandantes das Forças Armadas brasileiras, com o cuidado de assinar e colocar seu número de CPF.

Luís Felipe Belmonte parece ter caído em desgraça, internamente, e foi afastado de funções diretivas. Já Raimundo Monteiro de Souza continua como “estrela” da instituição, dirigindo sessões pelo Brasil adentro.

Jair é filho do mestre Gabriel/Foto: UDV

Instituição lambe suas feridas

Pensem numa pessoa humilde, simpática e carismática e lá estará o mestre Jair Gabriel da Costa. Porém, será que esses são atributos suficientes para que ele conduza a instituição que lambe suas feridas do bolsonarismo recente, e que passou até a ser chamada por opositores como “Desunião do Vegetal”?

Há um apreço e consideração enorme dentro desta instituição tradicionalista pelos mestres antigos, membros do conselho da recordação dos ensinos do mestre Gabriel. 

É em nome desse respeito aos velhos mestres que associados relevam discursos e ações misóginas, homofóbicas, preconceituosas e discriminatórias de alguns (ou muitos) deles. Sem falar no “terraplanismo” de alguns.

Este apreço e consideração pelos mestres antigos resultou, agora, na condução de Jair Gabriel da Costa à liderança máxima desta instituição ayahuasqueira.

A pergunta – ou dúvida – que se sobrepoe ao resultado, é se Jair Gabriel da Costa, conivente com o bolsorismo, irá continuar o árduo trabalho de tirar a política do seio da UDV, tarefa iniciada por Paulo Afonso Amato Condé, que conduziu a instituição entre 2018 e 2020, e continuado por José Carlos Garcia, entre 2021 e 2023.

É o futuro e a configuração desta instituição ayahuasqueira que está em jogo.

Comentários

10 respostas

  1. Muita gente considera que a UDV virou satanista no sentido de propagar no seu íntimo ideais ruins, por isso, mantem da direção da religião pregadores adeptos das ideias propagadoras de fakenews, tortura, golpe anti democrático e preconceitos discriminatórios.

  2. O movimento político de extrema direita fez eclodir o que estava escondido no submundo das instituições religiosas e políticas. Eclodiram movimentos facistas adormecidos dentro de religiões forjados por um conservadorismo preconceituoso, defensor da ditatura militar e de golpe anti democrático. É possível crer que governo de extrema direita que governou o país foi a oportunidade que os facistas tiveram para sair do esgoto e tentar dominar com suas doutrinações repletas de mau caratismo.

    1. Disse o mestre Gabriel: ” aquele que tentar escandalizar a união do vegetal, não sabe o que está fazendo para sua própria vida”. Infelizmente o autor do texto, Sr Alexandre, desconhece os princípios fundamentais de nossa sociedade e por ter crenças pessoais vazias e frustradas, não teve ascensão neste ambiente onde desfrutamos da luz da hoasca e a ciência do grande rei salomão. Neste momemto de ofenças nos inspiramos na paciência e obediência de Jó a Deus para permanecer na constância da prática fiel do bem compreendendo os que ainda não tem consciência do trabalho Divino que tem a UDV com a humanidade. Luz, paz e amor.

  3. Se ele conseguir colocar em prática o Respeito e Amor ao Próximo em pé de igualdade dentro e fora do âmbito, como o M. Gabriel ensina, certamente terá tranquilidade.

  4. Se conseguir colocar em prática o Respeito e Amor ao Próximo em pé de igualdade dentro e fora do âmbito como o M. Gabriel ensina, certamente terá tranquilidade.

  5. Votar no Jair pra tirar o outro Jair da UDV é muita contradição e tb capricho do destino. Talvez isso reflita um pouco do paradoxo que os dirigentes da instituição estão vivendo. Boa sorte ao Jair eleito.

  6. Nada mudou, aliás, piorou mais ainda. O “bolsonarismo” com sua homofobia, perseguição, misoginia e outras caracteristicas continuam. Tem diversos casos para relatar, como perseguição a um sócio de Salvador que durante anos trabalou muito pela obra, foi expulso por concordar com uma fala de um ex sócio que sofreu ataque homofobico por esse atua “Mestre”, Jair. Ele colocou como braço direito um mestre empresario de Salvador, Ivan Evangelista, que posso até sugerir que a PF faça uma investigação. Várias perseguições acontecendo em nucleos, preconceitos e piadas homofobicas.

    a UDV ta cada mais bolsonarista, e é melhor Jair se acostumando. Uma pena

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