A próxima edição brasileira da ExpoCannabis promete ser maior e repleta de novidades. As possibilidades do cânhamo, uma subespécie não psicoativa da cannabis, para a indústria e o agronegócio serão um dos destaques da segunda edição da feira internacional, que acontece em São Paulo em novembro, focada em um setor que no Brasil vive entre avanços e retrocessos.
Debates abordarão a cadeia produtiva que poderia ser fortalecida por um mercado regularizado. No Brasil, há cerca de 15 mil hectares com potencial para produção de cânhamo, de acordo com dados da Kaya Mind, empresa especializada no setor canábico. Segundo os organizadores da feira internacional, o cânhamo pode ser uma alternativa sustentável e economicamente viável.
“Suas fibras são mais resistentes e sustentáveis que o algodão, e suas sementes oferecem uma fonte rica de proteínas e ácidos graxos essenciais. Além disso, a planta pode substituir o petróleo na produção de plásticos biodegradáveis”, afirma a cofundadora da Latinnabis e ExpoCannabis Uruguay, Mercedes Ponce de León
O país poderia ser uma das principais potências do setor no mundo, afirma a cofundadora da Latinnabis. “A cannabis foi uma das primeiras plantas que o ser humano industrializou, as primeiras roupas feitas no mundo foram feitas com folhas de cânhamo.”
Vale esclarecer que o cânhamo (nome popular da Cannabis ruderalis) é uma subespécie da cannabis, com quase zero THC (responsável pelos efeitos psicotrópicos). Mais de 50 países permitem o cultivo da planta, que possui mais de 25 mil possibilidades de uso pela indústria. No Brasil, a produção continua proibida.
Outros materiais derivados dessa subespécie da cannabis, como o concreto de cânhamo, que possui propriedades térmicas superiores e resistência ao fogo, poderiam ser uma opção atraente também para construções sustentáveis e seguras, explica Mercedes.
A ExpoCannabis acontece há mais de dez anos no Uruguai, onde o uso medicinal e adulto da planta é legalizado desde 2013. A primeira edição do evento no Brasil, realizada durante três dias na capital paulista em 2023, reuniu mais de 130 empresas do mercado de cannabis e recebeu cerca de 20 mil visitantes.
Com o apoio do Consulado Geral do Uruguai desde a primeira edição, a feira deste ano pretende mostrar ao público que a cannabis possui múltiplos usos que podem beneficiar a sociedade.
As utilizações da cannabis vão além de seu uso medicinal, possuindo uma variedade de aplicações que precisam ser normalizadas e integradas à sociedade, defende Larissa Uchida, CEO da ExpoCannabis Brasil.
“A gente poderia ter uma movimentação do setor alimentício, do setor têxtil, de biocombustível, de uma maneira muito mais sustentável e interessante para o mundo inteiro”. Ela acredita que normalizar essa perspectiva e ajudar a transformar o entendimento da sociedade sobre a planta é um papel crucial da feira.
Uso medicinal
O uso medicinal da cannabis deve ser outro eixo importante da ExpoCannabis 2024. Essa é uma área que ainda enfrenta muitos desafios no Brasil, como o alto custo dos produtos e dificuldades no acesso.
No entanto, com a crescente conscientização sobre seus benefícios, mais médicos estão se qualificando para prescrever e mais pacientes estão buscando tratamentos à base da planta, observa Maria Eugenia Riscala, CEO da Kaya Mind.
“O número de pacientes de cannabis medicinal no Brasil hoje atinge 550 mil pessoas”, afirma. Mas, segundo ela, 6,9 milhões de brasileiros poderiam estar se beneficiando com esse tipo de tratamento. “A demanda vem crescendo, com uma média de 15 a 20 mil novos pacientes por mês.”
A popularização do uso medicinal tem também fomentado discussões sobre a ampliação do acesso e a redução dos preços, seja por meio de políticas públicas ou pela expansão do cultivo local autorizado para fins terapêuticos. “Hoje, o mercado de cannabis medicinal é regulado no Brasil, mas ainda está longe do que gostaríamos”, analisa a CEO da Kaya Mind.
Evento espera receber 40 mil pessoas
A segunda edição brasileira da ExpoCannabis será realizada entre os dias 15 e 17 de novembro, no São Paulo Expo, no Jabaquara, zona sul da cidade. Com a participação de mais de 300 empresas do setor, o evento ocupará os pavilhões 7 e 8, um espaço três vezes maior do que o utilizado no ano passado.
Além de expositores, a programação incluirá atrações artísticas, culturais e debates sobre o tema. Especialistas em uso terapêutico de psicodélicos também estão confirmados para a edição. A expectativa da organização do evento é receber cerca de 40 mil pessoas nos três dias da feira.
*Com edição de Carlos Minuano