Em novembro, estará no Brasil o curandeiro Mateo Arévalo, líder indígena da etnia Shipibo-Conibo. Ele vem a São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul para uma série de cerimônias e retiros de ayahuasca.
No Peru, as pessoas que trabalham com a medicina indígena amazônica são chamadas de curandeiros, maestros ou médicos vegetalistas.
Em geral, os curandeiros trabalham utilizando cantos e diversas plantas. A principal delas é a ayahuasca, bebida psicoativa feita da mistura macerada de um cipó e folhas.
Utilizada há milhares de anos por povos indígenas amazônicos, a ayahuasca no Peru é reconhecida como patrimônio cultural do país desde 2008.
O uso ritualístico e religioso da bebida psicodélica ayahuasca é permitido no Brasil, por uma resolução de 2010 do Conad (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas), mas não é recomendado para pessoas que sofrem de doenças psiquiátricas — como esquizofrenia e transtorno bipolar – ou doenças cardíacas.

Autoconhecimento e cura espiritual
A viagem de Mateo Arévalo ao Brasil faz parte do projeto Conexões Shipibo, que desde 2022 vem promovendo a difusão do conhecimento tradicional Shipibo-Conibo.
O curandeiro de 69 anos, nasceu, cresceu e vive até hoje na Comunidade São Francisco, em Pucallpa, na região de Ucayali, na Amazônia peruana.
Os conhecimentos milenares sobre a ayahuasca e outras muitas plantas foram transmitidos por seus pais e avós, todos curandeiros respeitados da região.
Aos 25 anos, Don Mateo (como é mais conhecido) mergulhou nos ensinamentos das ‘plantas professoras’, iniciando uma busca profunda por autoconhecimento e cura espiritual.
Há anos, o curandeiro peruano tornou-se professor de outros curandeiros shipibos e hoje é reconhecido internacionalmente por suas habilidades de cura e orientação espiritual.
Ele afirma que sua missão é ajudar as pessoas a se reconectarem com sua natureza, a buscarem autoconhecimento e experimentarem uma cura profunda.
“Sua vinda representa uma oportunidade única de vivenciar a sabedoria ancestral do povo shipibo”, diz Anelise Pacheco, terapeuta e criadora do Conexões Shipibo.
“Há um canto para cada pessoa, são os espíritos que os guiam para curar os pacientes”, disse Don Mateo, sobre o uso dos ícaros, cânticos usados nas cerimônias de ayahuasca, em entrevista à Psicodelicamente.
Um pouco da história de Don Mateo é contada no filme “Nii Koiranai, El guardián de la selva”, de Patricio Ruiz Alarcón (de 2019). O documentário mostra fragmentos da vida do líder indígena e traz depoimentos que mostram o reconhecimento que ele tem em sua comunidade, mantendo e praticando a sabedoria ancestral do povo Shipibo.
Povo Shipibo-Conibo
A população Shipibo-Conibo, segundo dados oficiais do governo peruano, atualmente é de cerca de 35 mil pessoas. A maioria vive na região de Ucayali e em Loreto, na selva amazônica do país. Há séculos, o povo Shipibo-Conibo utiliza a ayahuasca como parte de sua cultura e crenças.
Para as populações indígenas da floresta amazônica essa prática tem uma importância que vai para muito além do valor histórico ou cultural. É central também para a identidade e territórios desses povos, tanto no desenvolvimento de movimentos sociais quanto na preservação da floresta e de suas tradições.
Na Colômbia e no Peru, já existem associações indígena focadas no uso da ayahuasca. No Brasil, desde 2017, povos indígenas também estão se mobilizando e organizando conferências sobre o tema.
Para mais informações sobre os trabalhos com Don Mateo no Brasil, acesse o perfil do Conexões Shipibo no Instagram.