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Cursos de psicodélicos no Brasil têm alta demanda e muitos desafios

Treinamentos focados em terapia psicodélica atraem profissionais de saúde, mas promessas de participação em ensaios clínicos levantam questões éticas

Carlos Minuano, para a Psicodelicamente

Foto: Cena do filme 'Os psicodélicos podem curar?'/Divulgação

A ciência no Brasil enfrenta inúmeros desafios. Desde a falta de financiamento até a baixa remuneração, os problemas são muitos. Essa realidade também afeta o campo das pesquisas com psicodélicos. Apesar do acúmulo de evidências sobre a eficácia terapêutica dessas substâncias, os estudos avançam a passos lentos, e o setor no país faz o possível para atender às muitas pessoas interessadas no tema. Embora a sonhada legalização ainda pareça distante, cursos focados em terapia psicodélica têm atraído a atenção de um público ávido por novidades.

Vendidas no formato de pós-graduação, a maioria das formações é voltada para profissionais da área da saúde interessados em trabalhar em um campo inovador, mas que – por aqui e em boa parte do planeta – ainda é incipiente. Isso ocorre porque grande parte dos psicodélicos permanece proibida. Restrições legais, preços altos e promessas de participação em ensaios clínicos levantam indagações sobre questões éticas envolvendo alguns desses cursos. Outro ponto negativo é o recente revés relacionado ao uso médico do MDMA, que não será aprovado este ano nos EUA, como era previsto.

Uma pergunta recorrente é: onde os alunos formados poderão atuar? Um receio é que os cursos ajudem pessoas a se legitimar num circuito de práticas supostamente terapêuticas e não legalizadas. Na internet e em redes sociais, é possível encontrar ofertas de terapia assistida por psicodélicos feitas por pessoas que sequer possuem formação adequada para isso.

Um caso emblemático é o da empresa Psicodelix, que vende abertamente psicoterapia assistida por psicodélicos em diversos canais como Instagram, internet e WhatsApp. O CEO da empresa, o pastor evangélico Bernardo Souza, que também é conhecido no meio por vender cogumelos mágicos, afirma ter diferentes formações para atuar no campo, incluindo um curso online na Harvard Medical School, nos Estados Unidos. Outras clínicas particulares, com ares de legalidade, também podem ser encontradas na internet, oferecendo terapia assistida com psilocibina, que ainda não é autorizada no país. 

Atualmente, no Brasil, apenas duas drogas psicodélicas podem ser usadas em tratamentos médicos: a cetamina, usada como anestésico desde os anos 1960 e agora administrada para tratar quadros graves de depressão e ideação suicida; e a ibogaína, princípio ativo da iboga, uma raiz alucinógena africana, importada com autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o tratamento de dependência química.

Outra opção que vem ganhando força entre psiquiatras e psicólogos é a integração psicodélica. Sem fornecer nenhuma substância, a prática busca promover o acolhimento em um contexto terapêutico para usuários de psicodélicos. Esse procedimento pode atender tanto aos psiconautas em geral, que fazem uso independente ou recreativo de alguma substância, quanto à imensa comunidade que utiliza a bebida psicoativa ayahuasca em contextos religiosos ou xamânicos.

Uma resolução do Conad (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas) de 2010 garante, no Brasil, o direito ao uso ritual da ayahuasca. A bebida psicodélica amazônica tem sido usada há centenas de anos por povos indígenas e, desde a primeira metade do século passado, por grupos religiosos como o Santo Daime e a UDV (União do Vegetal).

Uma terceira alternativa são os ensaios clínicos. No entanto, eles ainda são escassos e atendem a um número ínfimo de pacientes. Pesquisadores reclamam de problemas que vão desde a falta de financiamento até o excesso de entraves burocráticos, além do preconceito e do conservadorismo que ainda obscurecem e atrasam o meio científico no país.

Ambiente de terapia psicodélica/Divulgação (Maps)

‘Informar e formar’

No emergente segmento de escolas psicodélicas brasileiras, uma das iniciativas mais recentes é o programa Jornada de Treinamento em Terapias com Psicodélicos para Saúde Mental, do grupo do físico e neurocientista Dráulio de Araújo, do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). A equipe de pesquisadores há mais de 17 anos conduz projetos pioneiros em pesquisa psicodélica no Brasil, com foco em DMT e cetamina. 

O programa, lançado no último mês de agosto, é um dos braços do Camp (Centro Avançado de Medicina Psicodélica), uma plataforma online, também criada este ano, que pretende difundir informações de qualidade com linguagem acessível e abrir caminhos para o principal objetivo do grupo: possibilitar atendimentos clínicos com esses compostos através do SUS (Sistema Único de Saúde).

“O Camp nasce com vários objetivos, entre eles informar e formar”, diz o pesquisador Dráulio de Araújo. No caso do curso, ele defende que o grupo tem a competência técnica necessária para oferecer uma boa formação profissional aos interessados em trabalhar com a medicina psicodélica

De fato, as pesquisas já realizadas por eles ajudaram a colocar o Brasil em destaque no ranking global da ciência psicodélica. Em 2018, a equipe liderada por Araújo foi a primeira no mundo a avaliar um psicodélico clássico no tratamento da depressão em um estudo duplo-cego randomizado, no qual pesquisadores e pacientes desconhecem quem tomou a substância ativa.

“Queremos formar pessoas nas áreas de medicina, enfermagem e psicologia em protocolos e modelos que permitam esse tipo de atuação de maneira responsável,” observa o pesquisador.

Segundo Araújo, o último dos três módulos do curso (exclusivo para profissionais com curso técnico, graduação ou pós-graduação na área de saúde e psicologia) será voltado para práticas clínicas. “Nessa fase, os alunos deverão participar como observadores de sessões com substâncias psicodélicas que conduzimos em nossos ensaios de pesquisa,” afirma.

Araújo não acredita que o curso possa incentivar práticas ilegais. “O que estamos propondo é antecipar o movimento regulatório que está por vir.” O pesquisador argumenta que já existe uma demanda associada ao acompanhamento de pessoas que fazem ou que farão uso de substâncias psicodélicas.

Ele cita como exemplo o caso de uma pessoa que procurou o grupo pedindo esse tipo de ajuda. “Há alguns meses, uma paciente que iria se submeter a uma intervenção com cetamina em uma clínica que não oferecia suporte psicológico pediu ajuda nesse sentido, pois ela queria ter esse acompanhamento. O grupo indicou profissionais competentes para realizar esse tipo de atendimento. 

Araújo defende que o curso também pode contribuir para a redução de danos. “Vamos formar pessoas para entender que uma substância psicodélica precisa estar inserida em um protocolo que inclui medidas de segurança.” Isso, segundo ele, permitirá que os profissionais ajudem seus pacientes que eventualmente fazem uso de psicodélicos.

Ele também acredita que o curso pode contribuir para o desenvolvimento do próprio campo científico. Segundo o cientista, há entre os alunos muitos pesquisadores interessados em trabalhar com psicodélicos que não têm experiência ou conhecimento suficientes. “Em breve, poderão iniciar seus próprios projetos de pesquisa com psicodélicos nas suas universidades.”

Uso médico de cetamina no Hospital Onofre Lopes da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)/Divulgação (Instituto do Cérebro)

Promessa de participação em pesquisas 

Um dos cursos pioneiros no Brasil foi o Fopap (Formação em Pesquisa com Psicoterapia Assistida por Psicodélicos), do Instituto Phaneros, criado pelo neurocientista Eduardo Schenberg. O treinamento, voltado para profissionais graduados em psicologia, medicina, enfermagem, terapia ocupacional e psicoterapia, prometia a participação em pesquisas clínicas do grupo, mas foi encerrado após a segunda turma, sem realizar nenhum estudo.

A primeira turma foi em 2020, quando o mundo ainda estava sob os efeitos nefastos da Covid-19. O pesquisador havia concluído um pequeno ensaio clínico no Brasil com MDMA (metilenodioximetanfetamina), apoiado pela Maps, e planejava realizar outros ensaios clínicos. Para Schenberg, o aumento dos transtornos mentais associados à pandemia poderia ser tratado por meio da psicoterapia assistida com psicodélicos.

Parecia uma ótima notícia para profissionais de saúde interessados em um campo tão inovador quanto promissor. Para muitos pacientes com diferentes transtornos mentais, a promessa de novas pesquisas era como uma luz no fim do túnel. Duas turmas foram formadas, com 100 alunos no total.

Mas, segundo Schenberg, dificuldades burocráticas para a realização de pesquisas inviabilizaram a parte prática, frustrando a promessa feita aos alunos e decepcionando, em especial, os pacientes que se voluntariaram para os ensaios clínicos que não ocorreram.

Em 2021, Schenberg informou que havia obtido autorização para seis protocolos de pesquisa com MDMA e psilocibina. Segundo ele, cerca de 270 pessoas seriam atendidas a partir do início de 2022, ao longo de dois anos.

O instituto chegou a anunciar a seleção de voluntários com uma diversidade de questões mentais. “Entrei em contato com eles, até recebi um e-mail questionando algumas coisas, mas não avançou”, diz uma fonte que prefere não se identificar.

Além de ter sido candidato a paciente, ele também foi aluno do Instituto Phaneros e considera os preços altos um ponto negativo do curso. “São voltados para um público elitizado. Considerando os valores médios que terapeutas no país recebem por consulta, eu acho caro.”

O valor total do curso, previsto para durar dois anos, foi superior a R$ 50 mil nas duas turmas realizadas, mas os alunos acabaram pagando somente a metade devido aos problemas com a parte prática.

O ex-aluno também comentou sobre a frustração com a promessa de participação em pesquisas que nunca ocorreram. “Lembro de um tom de lástima no grupo”, disse.

Um psicólogo que participou de cursos do Instituto Phaneros e também pediu para não ser identificado, embora admita a qualidade da formação, concorda que foi uma decepção para muitos. Ele reclama de nunca ter recebido um posicionamento de Schenberg sobre o assunto.

‘Culpa é da Anvisa’

O fundador do Instituto Phaneros, Eduardo Schenberg, afirma que o problema é a burocracia da Anvisa. Segundo ele, para que as prometidas pesquisas aconteçam, é necessário um documento chamado AEP (Autorização Especial Simplificada para Estabelecimentos de Ensino e Pesquisa), que precede a importação dos psicodélicos para a realização dos ensaios clínicos.

“Sem ela, não dá nem para solicitar a outra autorização de importação. Solicitamos a AEP há quase dois anos e nunca avaliaram o pedido. Fomos à Justiça Federal, ganhamos, e nada da Anvisa avaliar nossa solicitação”, lamenta o pesquisador, que hoje vive em Portugal.

Ele também reclama que poderia estar abrindo mais uma turma, formando a segunda, e encaminhando centenas de profissionais e pacientes para os diversos protocolos de pesquisa. “Nada disso aconteceu por conta desta atitude anticientífica da Anvisa.”

Schenberg cita ainda que, devido à lentidão da agência, parcerias com instituições como a USP (Universidade de São Paulo) e a UCL (University College London) estão em risco. “Tudo está sendo jogado fora, anos de trabalho de dúzias de pessoas.”

A Anvisa foi procurada pela Psicodelicamente, mas respondeu apenas que “somente fornece informações sobre o andamento de processos por meio dos canais formais estabelecidos com os pleiteantes.”

Apesar do imbróglio com a Anvisa, no ano passado o instituto lançou uma campanha de crowdfunding com o objetivo de arrecadar meio milhão de reais para financiar novos estudos. No vídeo de divulgação na plataforma, Schenberg anuncia que, entre 2023 e 2024, atenderia até 220 pacientes em cinco protocolos de ensaios clínicos, utilizando psicoterapia assistida por MDMA e psilocibina, aprovados pela Comissão Nacional de Ética em Saúde (órgão responsável pela avaliação ética de pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil).

Segundo informa o pesquisador no vídeo, as pesquisas seriam executadas com a participação dos 100 profissionais de saúde em formação nas duas turmas do curso, espalhados por aproximadamente 20 cidades em diferentes estados do país.

Quando questionado sobre por que manteve o anúncio até o último mês de agosto, mesmo sabendo que não teria condições de realizar os estudos, Schenberg afirmou que ainda acreditava ser possível. “Agora, na reta final, após a sentença judicial, estávamos esperançosos de que a Anvisa concedesse a autorização”. Na página da campanha na internet, consta que foram arrecadados pouco mais de R$ 67 mil – bem menos que a meta de R$ 500 mil.

O pesquisador não explicou por que não entrou com o cumprimento de sentença, um recurso para obrigar a Anvisa a cumprir o que foi determinado pela justiça. Entretanto, há indícios de que os problemas de Schenberg não foram apenas com a Anvisa.

Segundo informações de uma fonte anônima nos EUA, mesmo que Schenberg conseguisse obter a aprovação da Anvisa, ele não teria um contrato para importar parte dos psicodélicos. Isso porque o acordo de compra que ele teria com a Lykos, divisão comercial criada para direcionar as pesquisas da Maps, foi rompido, entre outros motivos, devido ao tamanho da remessa de MDMA que ele queria.

“A proposta era mirabolante demais, ele queria tratar 100 pessoas com MDMA, o que leva anos, mas queria fazer tudo simultaneamente em 50 locais”. A Lykos foi procurada, mas não quis comentar o caso.

Schenberg também se esquivou do assunto, mas negou que isso implicaria no impedimento da pesquisa. “Discutimos apenas possibilidades, imaginando cenários. A Lykos poderia ser um dos fornecedores de MDMA. Temos contato com outros fornecedores também, assim como com mais de um fornecedor de psilocibina.”

Outro ponto sensível nesse imbróglio é o vínculo com a Maps, algo que sempre foi amplamente propagado pelo grupo de Schenberg. A formação chegou a contar com a participação do casal Michael e Annie Mithoefer, que lideraram os estudos clínicos com MDMA nos EUA. A associação alega desconhecer a promessa de Schenberg aos alunos sobre a participação em ensaios clínicos e afirma que ele nunca foi um representante oficial.

“Não temos nenhum acordo ou estrutura sob a qual alguém possa se tornar nosso ‘representante’ em países fora dos EUA, embora tenhamos colaborado com organizações e pesquisadores independentes em todo o mundo”, esclarece Betty Aldworth, diretora de Educação da Maps.

Sem entrar em detalhes, Schenberg afirma que a associação norte-americana não é ‘parceira’ do Instituto Phaneros, nem nunca foi, por implicações jurídicas. Ele se defende argumentando que o seu treinamento nunca foi da Maps. “É 100% brasileiro, criado por nós, de ponta a ponta, incluindo colaborações. Nunca se tratou de importar o método deles, nem de terapia, nem de treinamento. Sempre tivemos total autonomia nas decisões pedagógicas e estratégicas, incluindo a escolha de fornecedores.”

Schenberg informou, no grupo de WhatsApp dos alunos do curso, o cancelamento definitivo da Fopap. A reportagem teve acesso ao comunicado do pesquisador, encaminhado no início do último mês de setembro. Mas, no site do Instituto Phaneros, o curso permanece ativo. Até o fechamento desta reportagem, nenhum comunicado oficial foi divulgado.  

Solicitação de licença feita pela empresa Lykos Therapeutics para a psicoterapia assistida por MDMA foi negada pela FDA/Divulgação (Maps)

Primeira pós-graduação psicodélica

No início de 2023, uma novidade chamou a atenção dos psiconautas em geral: começou a circular nas redes sociais a informação sobre a primeira pós-graduação lato sensu autorizada pelo MEC (Ministério da Educação) para a formação de terapeutas psicodélicos. 

Assim como a formação do Phaneros, o curso oferecido pelo Instituto Alma Viva, vinculado à empresa Biocase Brasil, também anunciava uma parte prática em um estudo com psilocibina, do qual deveriam participar 100 pacientes com câncer.

A pós-graduação, dirigida a médicos e psiquiatras, tem entre os professores alguns nomes conhecidos no meio psicodélico. Entretanto, embora uma nova turma já tenha iniciado, a pesquisa anunciada em 2023 ainda não começou.

O instituto informou à reportagem que está finalizando a importação de 18 quilos de psilocibina in natura pelo valor de US$ 45 mil dólares. Será necessário desenvolver um lote piloto do produto com farmacêuticas e laboratórios parceiros antes de solicitar autorização para um estudo de fase 1, com foco em depressão resistente e que deverá atender a poucos pacientes.

Sobre o ensaio clínico para ansiedade existencial com 100 pacientes com câncer, a empresa prevê realizar em breve, mas com o cogumelo in natura, e não com  medicamento.

As pesquisas, segundo informou o instituto Alma Viva, serão possíveis após a conclusão de todas as etapas de aprovação já realizadas em São Paulo. E também dependem de que a Uninorte, do Acre, instituição universitária vinculada ao instituto, também obtenha as autorizações necessárias. 

“Estudos acadêmicos com substâncias como a psilocibina só podem receber autorização da Anvisa dessa forma, através de uma instituição universitária, segundo as novas regras de 2022”, explica Cesar Camara, diretor científico do Instituto Alma Viva e coordenador da pós-graduação.

Os alunos da pós-graduação poderão ser integrados para a realização de suas atividades práticas no estudo já aprovado, mas o diretor ressalta que, com as licenças obtidas na clínica, os alunos também terão a oportunidade de ter contato com um psicodélico regulamentado: a escetamina, administrada de forma endovenosa e intranasal.

Cena do filme ‘Os psicodélicos podem curar?’/Divulgação

‘Há um hiato entre pesquisa e formação’

Para alguns especialistas do meio, o aumento na oferta de cursos de formação é positivo e está relacionado com certos movimentos do setor. Na avaliação da psicoterapeuta Daniela Monteiro, conselheira diretora da APB (Associação Psicodélica do Brasil), o número de estudos no país está aumentando, assim como a quantidade de universidades que se abrem para esse tipo de investigação.

Monteiro recorda que o país foi destaque em um levantamento publicado em 2021 no Journal of Psychoactive Drugs. No artigo do pesquisador canadense David Wyndham Lawrence, o Brasil é apontado como o terceiro do mundo no ranking de artigos científicos de impacto, atrás dos Estados Unidos e do Reino Unido.

“O que acontece no campo da pesquisa influencia o processo formativo”, acredita Monteiro. Hoje, há universidades pesquisando psicodélicos em todas as regiões do Brasil.

No entanto, a pesquisadora acredita que ainda há um hiato entre pesquisa e formação. “O encontro entre estudos científicos e educação sempre foi uma pauta importante para a APB. Desde a fundação da associação, falamos sobre isso.”

Monteiro também ressalta a importância da comunicação para a educação sobre o uso de psicodélicos. A associação foi uma das pioneiras na realização de cursos com uma abordagem mais introdutória e educativa, dirigida ao público em geral e com ênfase na

redução de danos. Em 2022, a APB lançou o curso ‘A Mente Manifesta’, que aborda aspectos clínicos e políticos do uso de psicodélicos. No mesmo ano, realizou o primeiro Congresso Brasileiro sobre Psicodélicos, que terá uma segunda edição este ano, nos dias 8 e 9 de novembro, no Ipub-UFRJ (Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

“O interesse amplo está crescendo, apesar das muitas narrativas que tentam afirmar que apenas as pesquisas clínicas e biomédicas estão avançando”, acrescenta o psicólogo Sandro Rodrigues, um dos fundadores da APB.

“Há uma multiplicação de campos de interesse e de questões que se cruzam”, observa o psicólogo. Ele cita como exemplo um dossiê da revista da Universidade Estadual do Ceará, que publicou uma edição especial sobre psicodélicos, com 20 artigos explorando essa temática no campo da filosofia.

Sobre os cursos, Rodrigues observa com ressalvas a oferta de formação em psicoterapia assistida com psicodélicos. “Há pessoas pagando uma fortuna, acreditando na promessa de que essas substâncias serão regulamentadas.”

Para o psicólogo, mesmo que a regulamentação ocorra, os preços no modelo terapêutico em que essas substâncias estão sendo estudadas serão proibitivos para grande parte da sociedade. “Quanta gente gostaria de fazer terapia, mas não consegue porque é muito caro?”, pondera. Mas, independentemente da regulamentação, o uso de psicodélicos continuará, e “a educação deve construir uma cultura em relação aos usos diversos dos psicodélicos.”

Carlos Minuano

Jornalista e escritor, há mais de duas décadas escreve sobre psicodélicos nos principais veículos jornalísticos do país, como nas revistas CartaCapital, Rolling Stone, jornal Metro. É colaborador do portal UOL desde 2012. Além de dirigir a Psicodelicamente, atualmente trabalha na pesquisa para um livro sobre psicodélicos, que será publicado pela editora Elefante. É autor de duas biografias, “Tons de Clô” (do estilista Clodovil Hernandes) em adaptação para uma série de streaming, e “Raul por trás das canções” (do músico Raul Seixas), ambas publicadas pelo grupo editorial Record.

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